A educadora Pâmela Paula Souza trabalhou durante 15 anos como coordenadora de uma escola. Com a experiência, decidiu que era hora de montar o próprio negócio em Palhoça, na Grande Florianópolis. Reformou uma casa, mas não tinha dinheiro para os primeiros gastos. A solução para abrir o centro de educação infantil veio com o microcrédito de uma Organização da Sociedade de Interesse Público (Oscip). Pâmela pegou um empréstimo de R$ 5 mil em fevereiro do ano passado.
— Parece pouco, mas para a gente fez diferença —afirma ela.
Hoje, o centro conta com 80 alunos e abrirá a segunda unidade, em São José. Pâmela não está sozinha. Santa Catarina representa 60% do microcrédito operacionalizado por Oscips, que são entidades sem fins lucrativos. No ano passado, esse tipo de crédito movimentou R$ 370 milhões no Brasil, sendo R$ 221,2 milhões em Santa Catarina.
O presidente do Conselho de Administração da Associação das Organizações de Microcrédito e Microfinanças de Santa Catarina (Amcred-SC), Júlio Búrigo, explica que essa modalidade voltada para micro e pequenos negócios tanto formais como informais começou, lá em 1999, mais consolidada no Estado. O apoio às entidades por meio de campanha do governo, da Agência de Fomento de Santa Catarina (Badesc) e da capitalização das organizações garantiram a consolidação do setor em território catarinense.
— O microcrédito das Oscips cobre um vácuo deixado pelas instituições financeiras tradicionais. Atende principalmente a negócios informais, que não têm controle contábil, então corre, em tese, em risco maior. Empregamos metodologia presencial que envolve visita obrigatória ao negócio. Ao contrário do banco normal, que recebe o cliente na agência, a gente vai ao encontro dos microempreendedores onde quer que eles estejam.
Com as visitas pessoais e análise caso a caso, feita por um dos 700 agentes de crédito em SC, as organizações conseguem fazer empréstimo inclusive para os clientes que estejam com nome negativado, por exemplo. Além disso, as taxas de juros só perdem para as linhas de crédito consignado ou com subsídios, ficando em torno de 3,5% ao mês.
— Nos bancos, a pessoa não consegue por menos de 5%, e não tem outros custos como IOF. Os diferenciais são a rapidez e flexibilidade — reforça o diretor-executivo da Amcred-SC, Pedro Ananias.
Foi de olho na pouca burocracia e na agilidade que Pâmela, por exemplo, optou por esse tipo de crédito. E, se depender da expectativas da Amcred-SC a modalidade deve crescer ainda mais no Estado:
— Com a crise econômica e taxa Selic mais alta, aumenta o risco de inadimplência e os bancos ficam mais restritivos. Isso amplia a atuação das OSCips, pois têm possibilidade de análise que as instituições bancárias não fazem — resume Búrigo.
Fique por dentro
> Atende geralmente segmentos produtivos de baixa renda
> É destinado para micro e pequenos negócios, tanto formais como informais
> Empréstimos entre R$ 1 mil e R$ 20 mil (com recursos próprios da Oscip pode de ser até R$ 40 mil)
> Prazo de até 36 meses
> Taxa de juros média 3,5%. Para microempreendedor individual (Mei) há programa do governo estadual sem juros, com linha de crédito de até R$ 3 mil
> Antes do empréstimo é feita a consulta do nome no SPC e Serasa. Porém se tiver restrições, irá buscar a natureza da restrição e, dependendo do caso, concede o crédito. Apresentação de documentação e orçamento do que vai adquirir, além do comprovante de renda
> Exige-se avalista
> SC conta com 17 Oscips, como Credioeste, Banco do Empreendedor, Credisol, Casa do microcrédito. Confira a lista completa em www.amcredsc.org.br